
Quando falamos dos cuidados que devemos ter com as ferragens utilizadas para Técnicas Verticais, falamos da nossa própria segurança. Portanto, a máxima atenção a todos os detalhes é fundamental para que tenhamos experiências seguras e prazerosas.
MAS ATENÇÃO: AS DICAS DESCRITAS AQUI NÃO SUBSTITUEM A FORMAÇÃO MAGISTRAL DO PRATICANTE NEM AS PRECISAS RECOMENDAÇÕES DOS FABRICANTES. PORTANTO: LEIA COM TOTAL ATENÇÃO O MANUAL DE USO DE SEUS EQUIPAMENTOS ANTES DE QUALQUER LIMPEZA E/OU USO!
A falha de uma ferragem não é tão comum, mas é uma possibilidade existente. Por exemplo, em apenas 3 anos registrou-se a ruptura de cerca de 20 mosquetões apenas na França; na Alemanha registra-se de 4 a 6 casos por ano; e na Espanha ocorreram mais de 12 casos, embora grande parte destes fatos tenham ocorrido devido à utilização inadequada dos mesmos.
Portanto, para que seus mosquetões durem e não falhem, tenha muita atenção na hora de usá-los: mantenha os gatilhos voltados para fora da rocha, preservando o seu lado menos resistente; não os use se a corda estiver suja com areia ou lama, capaz de desgastar suas estruturas; não os sobrecarregue com mais mosquetões do que eles foram projetados a suportar; não use um modelo D Assimétrico diretamente em roldanas, etc.
Os fabricantes trabalham com aleações suficientemente resistentes para a fabricação das ferragens, empregando principalmente aço carbono, inoxidáveis, níquel-cromo-molibdênio e alumínio com zinco. No entanto, as primeiras informações que devemos ter sobre cuidados com equipamentos é que todo material tem uma vida útil.
Um dos mais importantes cuidados que devemos ter com as ferragens, também um dos mais polêmicos, refere-se à possibilidade de ocorrer micro-fissuras internas nestes equipos caso sofram uma queda. Para os céticos, vale uma leitura dos manuais dos fabricantes, que alertam sobre este risco.
Ao contrário do que alguns escaladores defendem erroneamente, ESTA POSSIBILIDADE É VERDADEIRA, pois os mosquetões não são feitos apenas do deformável alumínio. Em geral, os mosquetões destinados à Escalada são fabricados com a mesma aleação, uma composição inicialmente desenvolvida para a indústria aeroespacial e que também pode produzir fissuras: o alumínio 7075 T6, comercialmente conhecido como Zicral e composto basicamente por 91% de alumínio, 5% de zinco, 2,5% de magnésio e 1,5% de cobre.
Segundo as palavras do espanhol Tino Núñez, um dos maiores peritos em equipos da atualidade, "aposente todo material que tenha sofrido uma queda considerável, pois mesmo que a maioria das possíveis micro-fissuras seja visível externamente, jamais se poderia assegurar sobre o seu estado interno, salvo que se recorra a provas laboratoriais". Em resumo, pode ser que um mosquetão caia dezenas de metros e nada sofra, da mesma forma que ao cair poucos metros possa ter a sua resistência comprometida. E como é difícil calcular se uma queda foi considerável ou não, na dúvida, aposente-o. Praticar a sua atividade com tranqüilidade não tem preço, além do que a sua vida vale muito mais do que alguns Reais.
Uma dica interessante é forrar o fundo da mochila com a corda para que as ferragens não sofram pancadas durante o transporte. Mantenha também todas as peças clipadas para evitar derrubar uma peça solta quando for retirar o equipo da mochila.
Para que os seus móveis durem mais, renove as proteções plásticas dos cabos de aço de seus Nuts com fita isolante, quando elas já estiverem arrebentando. Já os cabos dos Friends, troque-os ao primeiro fio arrebentado - de preferência via fabricante, para não perder a garantia e não correr riscos desnecessários.
Outra dica é desfazer sempre que possível os nós dos cordeletes de seus móveis para que "descansem" enquanto não estão em uso. Estudos provam que manter cordas e cordeletes com os nós feitos acelera a deteriorização de seus materiais.
Mas lembre-se, por mais que cuidemos bem de nossos equipos, só estaremos aproveitando ao máximo a sua vida útil, pois esta um dia chegará ao fim e seu equipamento deverá ser aposentado. Para evitar a possibilidade de acidentes, recomenda-se inutilizar estes equipos.
Para espanto de muitos, a partir do momento em que uma ferragem é produzida, ela já entrou em processo de deteriorização, podendo durar mais ou menos do que o prazo de validade estipulado pelo fabricante, variando de acordo com a sua quantidade de uso (ocasional ou intenso) e sua forma de uso (leve ou extremo). Mesmo que esta ferragem se mantenha estática na prateleira de uma loja!
Este processo chama-se Fadiga de Materiais. Quando uma ferragem entra em uso - podendo sofrer pancadas, utilização inadequada e pressões diversas comuns - este processo pode alcançar claramente três etapas: incubação (micro-deformação progressiva ou "distorção atômica"), fissuração e ruptura.
A recente normativa européia obriga que todos os materiais de alpinismo vendidos na Europa apresentem o prazo de longevidade de cada produto, algo raro até então para as ferragens.
De forma geral, considera-se que todo o material têxtil destinado à segurança (como as fitas dos móveis e das costuras) deve ser aposentado em um prazo de 5 anos, mesmo que sem uso (de 1 a 3 anos em caso de muito uso!). Já as ferragens, os fabricantes asseguram que 10 anos seria a longevidade média para os mosquetões, friends, freios, etc - caso tenham sido bem conservadas, usadas adequadamente e sem terem suportado quedas de valor alto.
Aposente qualquer peça que tenha sofrido queda próxima a Fator 2, mesmo que seu aspecto ainda pareça excelente. Peças que apresentem qualquer tipo de deformação também devem ser eliminadas imediatamente.
Alguns especialistas são ainda mais exigentes, consideram que 5 anos seria o tempo aconselhável para se aposentar qualquer freio que tenha eixos ou alavancas. E 10 anos somente no caso de móveis pouco usados e sem solda ou "cabeza". Algumas poucas empresas defendem um prazo superior e existem casos de equipos que mantiveram sua resistência mesmo após o vencimento de sua data de validade, mas são casos isolados e quando tratamos de nossa segurança convém sermos conservadores.
Evite lavar seu equipo desnecessariamente. Se precisar, lave com água fria. Se muito sujo (com terra, magnésio, etc), lave com água morna até 40ºC e sabão neutro, com o auxílio de uma escova dental. Muitos americanos limpam as suas ferragens fervendo-as, mas alguns especialistas não aprovam este processo, pela necessidade de um controle preciso do processo - temperatura exata, suporte especial, etc. Caso não domine este processo não o adote!
Ao final da lavagem, seque à sombra e depois engraxe todas as peças móveis: travas e molas dos mosquetões; hastes, castanhas e eixos dos móveis ativos (friends, Tricans, Ballnuts, etc); alavancas dos descensores, ascensores e freios; roldanas, etc. Utilize lubrificantes como os de máquina de costura (sem derivados de hidrocarburetos) ou então spray de silicone. Ou mesmo, grafite em pó, utilizado para a lubrificação de fechaduras. Mas cuidado com as fitas e tecidos. Remova-as e somente as remonte quando a peça já estiver sem excessos de lubrificante, que podem ser removidos com papel toalha ou higiênico. As pequenas reentrâncias podem ser limpas com bastonetes de algodão (para limpeza auricular), mas cuidado com os fiapos.
Os cuidados de armazenamento devem ser seguidos rigorosamente: jamais guarde suas ferragens úmidas ou sujas. Guarde-as em locais secos, arejados e abrigados de fontes de luz e calor, principalmente se tiverem tecidos, como as costuras e alguns móveis.
Também contrariando muitas opiniões, as ferragens não podem entrar em contato com produtos químicos, corrosivos e solventes, materiais altamente prejudiciais para elas. Em caso de contato acidental, informe o fabricante sobre qual o nome exato do material contaminante e como ocorreu o acidente, para descobrir como proceder (limpeza ou inutilização do material).
Por estas e outras razões é que somente devemos comprar materiais de segurança em lojas especializadas (que realmente tratam os equipamentos de forma adequada) e que nunca devemos adquirir ferragens usadas. Afinal, nós também temos vida útil!
Fonte: http://www.penatrilha.com.br/
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